27 de fev. de 2014

Medo de temporal, da violência urbana, de espíritos?

  Mais um desafio me é apresentado. Uma graça de menino, 14 anos, mas cheio de medos. Viver numa cidade violenta, que noticia diariamente na televisão os assassinatos, os assaltos, as violências contra qualquer um na rua é complicado quando uma cabecinha já tem tendências a guardar medos. E o que dizer então de um medo não muito comum que é o medo de ver espíritos? Um menino dessa idade já deve conseguir ficar sozinho em casa por alguns períodos, dormir sozinho em seu quarto há um bom tempo, sair pra rua para visitar amigos, ir para a escola etc. Alguém que tem medo de ficar sozinho porque um espírito pode lhe aparecer, não fica tranquilo um só minuto. Além desses dois, veio um medo muito comum e que as pessoas nem imaginam que podem se livrar facilmente dele: medo de temporal, com chuva forte, raios e trovões barulhentos.

  Esse caso, que comecei a atender essa semana, me fez perceber que um medo só não basta muitas vezes... Muita gente acaba "colecionando" pavores no dia-a-dia e vai se fechando dentro de casa, dentro de si... Achando que isso tudo vai passar, ou que é normal, ou que não tem o que fazer, já que as terapias tradicionais acabam demorando demais para dar resultado e o jeito é o psiquiatra dar um remedinho que faça a pessoa dormir e esquecer que tem medo.

  O EMDR vai atuar exatamente nestes casos em que os medos têm um início, um primeiro episódio, geralmente marcado por um susto, um trauma ou um Trauma. Os traumas com "t" são aqueles pequenos, que volta e meia passamos por um. Que por mais que deixe marcas, conseguimos levar a vida com ele na nossa sombra. Já os Traumas, com "T", são as coisas mais pesadas, os abusos na infância, tanto sexuais como morais, psicológicos, ou físicos; são os assaltos, sequestros... Esses deixam um registro na nossa memória de que nunca mais seremos os mesmos, nunca mais seremos livres quando tratarmos daquele assuntos, quando tocarem na nossa ferida. Esse aprisiona, tira a liberdade, a felicidade, a tranquilidade.

  Saber que uma técnica de psicoterapia tem tantos resultados positivos, em um curto espaço de tempo, e que é permanente, pois modifica a forma de armazenamento na memória do que foi registrado errado e por isso marcou, "traumatizou", é muito gratificante. Trabalhar com essa técnica e ver meus pacientes saindo do consultório depois de cinco ou seis sessões cheios de esperança, com alegria nos olhos e gratidão pela terapia é bom demais!

  Torço para que o mundo conheça melhor o EMDR, que possa se beneficiar mais e logo com ele! A longo prazo, nosso objetivo, como terapeutas de EMDR é diminuir a violência urbana, pois se uma pessoa que comete crimes tiver sua memória de infância, geralmente marcada pela violência, limpa e regenerada dos traumas sofridos, com certeza não reproduzirá aquilo que não lhe marca mais. Quem sofreu bulling e tiver sua memória recuperada e reprocessada podendo lidar melhor com essas lembranças, não precisará se vingar de tudo e de todos descarregando uma arma dentro de uma escola. E assim por diante. Quem está bem consigo mesmo não vai passar para o mundo nenhuma raiva recolhida, nenhum sentimento de vingança e nenhum comportamento aprendido e reafirmado por anos nos lares violentos.

5 de fev. de 2014

Os pequenos medos do dia-dia dos pequenos


  A maior satisfação que a terapia de reprocessamento EMDR pode trazer a nós terapeutas é ver um medo ir embora em uma hora de sessão. Os pequenos medos do dia-a-dia para um adulto podem ser apenas alguns segundos de angústia, mas para uma criança podem ser momentos de terror, diariamente perturbando, incomodando, dificultando os momentos de prazer, de brincadeiras, de diversão. Criança tem que ser livre, brincar e se divertir, livre de amarras fora e dentro dela. O medo aprisiona, impossibilita a liberdade natural de uma criança.

  Ver o meu filho com medo é muito ruim para mim, assim como para qualquer mãe. Nos sentimos com as mãos atadas, pois o medo está dentro da cabecinha da criança e por mais que tentemos argumentar, é difícil pra ela enfrentar. Não é uma bobagem, como os adultos gostam de dizer... O medo de uma criança, quando não sanado, pode vir a incomodar na idade adulta de alguma forma, pode travar o adulto em algum momento de sua vida. Por isso resolver as coisas dentro da cabeça da criança evita esse futuro doloroso e muito mais difícil de limpar, já que ela alimentou o medo por anos...

  Hoje pude diminuir um pouco mais as fantasias terroríficas do meu filho, que tinha medo do tal Chucky, o Brinquedo Assassino, só de ouvir falar, sem nunca ter visto uma cena sequer do filme. Pela sua curiosidade, viu uma foto e perguntou sobre a história, que eu acabei contando e me arrependi, pois criou fantasias na sua cabecinha e um medo sem sentido pra mim, já que ele nem vira o filme. Mas depois de alguns dias, resolvi fazer EMDR com ele, já pela segunda vez desde que aprendi a técnica. Só de começarmos a falar no assunto, montando o protocolo, ele disse que o medo já estava diminuindo. Quando terminamos o trabalho, quase uma hora depois, ele suspirou aliviado: "não tenho mais medo, mãe, que bom!"

  Essa é a gratificação, o pagamento maior! Uma cabecinha livre de tormentos novamente! Leve para pensar coisas boas, sorrir, brincar e se divertir, como ele mesmo gosta de dizer.

  Obrigada aos meus queridos mestres Esly Carvalho e André Monteiro. Como mãe e como profissional, agradeço ter conhecido essa técnica maravilhosa que purifica a vida das pessoas que sofrem.