9 de nov. de 2015

Nosso cérebro, nossas emoções, nosso guia

 Como é interessante o poder do nosso cérebro! A incrível capacidade que temos de seguir aquilo que acreditamos, seja algo positivo ou negativo, tem uma força e poder inimagináveis! Assim como conseguimos acreditar no que nos dizem, mesmo sendo uma mentira, também conseguimos criar a nossa verdade, aquela em que nosso cérebro vai acreditar e nos guiar diariamente.

 Eu sempre achei incrível a reação que algumas pessoas têm durante o tratamento de EMDR, durante o reprocessamento de um cena dolorosa, traumática. O cérebro, depois de dessensibilizar tudo o que podia, tirar todo o sofrimento e carga emocional negativa de cima da cena traumática, "inventa" uma maneira da pessoa conseguir suportar o vivido, fazendo com que ela veja aquilo que aconteceu de outra maneira e que se sinta mais forte para enfrentar o passado assim. Sempre cito nas minhas sessões o caso de uma paciente que avaliei para cirurgia da obesidade, há alguns anos, e que trazia uma dor grande dentro de si, uma vergonha que havia passado por ser obesa. A maneira como ela reconstruiu a cena original, reagindo àquela dor, mostrando o seu valor, foi tão incrível e ela acreditou tanto naquilo que depois, quando eu pedia para ela acessar a cena original novamente para medirmos o grau de perturbação, ela não conseguia mais. Só tinha acesso à "nova cena", a que o cérebro havia criado para reparar a dor da cena original.

 Por isso que sempre digo aos pacientes: Não importa se aconteceu ou não. Se você enxergar, se você acreditar nisso, vai sentir isso e será verdade pra você. Essa regra se dá tanto na criação da ferida, no momento do trauma, quanto depois, no reprocessamento. Pois, já que não podemos apagar o passado e fazer uma nova história, o cérebro se encarrega de reparar aquela cena da melhor maneira possível, sendo substituindo-a por uma nova cena, suportável ou engraçada, seja apagando aquela lembrança, distanciando a pessoa da lembrança, tornando o que era tão vívido, com cores, cheiros, gostos, sons... algo cinza, estático e distante. Uma fotografia, de um passado que não mete mais medo. E aqui está a cura, a libertação.

 Pensando em toda esta capacidade que nosso cérebro tem, ainda lembro de mais uma coisa: quando o paciente está tão engajado na terapia, desejando tanto aquela ajuda, sair daquele sofrimento, enxergar novamente a luz no fim do túnel... o reprocessamento ainda nem começou e ele já sente melhora nos aspectos conversados na terapia, enquanto estamos montando o protocolo. Muitas vezes isso acontece por ele poder estar desabafando com alguém um peso que carregava sozinho. Outras vezes, por saber que aquela pessoa que o escuta, não está ali para julgá-lo, para apontar o dedo e dizer que a culpa também foi dele, mas simplesmente para ouvir e ajudar. Depois que se abre, já começa a se sentir mais leve e quando iniciamos o reprocessamento, a evolução é muito mais rápida.

 Mas da mesma forma o peso de uma Crença Negativa também pode afundar. Às vezes ela é tão verdadeira para aquela pessoa, que não importa o quanto todo mundo ao redor diga que é bobagem, ela continua acreditando e sabe que aquilo é muito mais forte do que ela. A Crença Negativa aprisiona, limita os passos, impede a realização de atos, de sonhos. Prende a pessoa dentro do seu círculo, da sua zona de conforto a impedindo de ver possibilidades além. E uma Crença Negativa ainda pode ser limitante, fazendo com que a pessoa se sinta impossibilitada de várias coisas na vida, muitas vezes a trancando dentro de casa.

 Claro que muita gente não sabe e não acredita numa libertação. Não entende que durante sua trajetória, algumas coisas foram acontecendo e sendo fixadas no seu cérebro emocional como verdades, fortalecendo Crenças Negativas criadas sem força racional. Muitas formas de terapia auxiliam, aliviam o sofrimento, trazem paz e possibilitam seguir a vida com menos dor. Mas só o EMDR trabalha o exato ponto em que tudo começou. O motivo original da dor, do bloqueio, onde o cérebro se fixou, onde a crença se formou e os momentos em que ela se fortaleceu. Limpando isso, o cérebro se liberta, reprocessa tudo de forma mais racional e é capaz de viver novas experiências sem medo.

27 de out. de 2015

Medos nossos de cada dia

É incrível o quanto que à medida que atendemos mais e mais casos diferentes (mas nem tanto!), passamos a ter um conhecimento maior até do que o paciente está pensando. Nós, terapeutas, do lado de cá, vamos descrevendo para o paciente, sofrendo do lado de lá, o que ele está sentindo, como o cérebro dele se comporta diante do medo e como ele lida com o mundo quando está aprisionado no trauma. Ele pensa que é o único a sentir aquilo tudo, a perder o controle, a não conseguir raciocinar direito e a saber tudo na teoria, mas na prática é um fracasso. Daí enquanto vamos descrevendo como se sente, ele vai se identificando com as características. Então podemos lhe dizer: "Você não é o único!"

Quem viveu algum trauma, pequeno ou grande, e percebe as consequências que este episódio teve na sua vida, não se dá conta que no mundo à sua volta, milhares de pessoas passam pela mesma situação diariamente. Claro que cada um vivencia as situações iguais de forma diferente, mas a impossibilidade de lutar contra aquilo, de mudar o que sente, de agir diferente é igual pra todo mundo. O cérebro é incrível mesmo! E nós conseguimos doutriná-lo durante a terapia de EMDR, durante o período de reprocessamento, em que o terapeuta ajuda o paciente a entrar em contato com suas dores e dessensibilizar tudo, reprocessando a lembrança, que vai perdendo força, cor, presença e importância.

Acho tão maravilhoso quando me relatam que não conseguem mais acessar a lembrança difícil, ou que ela parece menos colorida, parece uma foto estática, o som sumiu, mudou alguma parte da cena etc. São as adaptações que o cérebro faz durante o reprocessamento, para curar a ferida, torná-la desimportante, sem o peso que sempre teve. Sempre explico que o que aconteceu, não pode ser mudado. Mas durante os movimentos bilaterais, o cérebro "cria" uma nova imagem em cima da imagem que realmente aconteceu. A partir desta criação, muitas vezes o paciente perde acesso à imagem original, pois neste momento, não importa se aconteceu ou não, o que importa é o que o cérebro está guardando como memória e é isso que vai valer daqui pra frente. Mesmo que seja algo inventado, uma mentira, digamos assim. Aquela velha frase: Uma mentira que é repetida muitas vezes, se torna uma verdade. Pro cérebro é assim. Se ele acredita naquilo, é a verdade. É só o que importa. Aqui se faz a cura. Para muitos pacientes isso nem é necessário acontecer. Os insights que vêm, são tão reconstruidores do ego e daquilo que estava abalado, que apenas o distanciamento da cena já é suficiente.

Mas lembre-se, um trauma não foi vivido apenas com uma imagem. Todos os nossos sentidos estavam aguçados naquele momento de medo. Visão é a principal, mas às vezes ela nem está tão presente assim, pois pode ter acontecido no escuro e a pessoa não ter podido ver nada, só sentir. E por isso os outros órgãos dos sentidos fazem o papel de guardar também as impressões do momento: o tato (um toque? um tapa? uma carícia? um apertão?), o cheiro (da pessoa? do lugar? da comida?), o som (de passos? de voz ou vozes? do mar? de uma fábrica?) e o gosto (do hálito do outro? de um alimento? uma bebida? outro objeto?). E é por isso que não podemos apenas trabalhar a imagem da cena (se houve uma) sem trabalhar todos estes detalhes captados pelos demais órgãos. O grau de perturbação só vai zerar quando zerarmos todas as más percepções que os 5 sentidos fizeram daquele momento.

Para quem trabalha com EMDR isso é muito claro. Pena que não é tão claro para as demais linhas teóricas, que fazem o paciente ficar falando, falando e falando daquilo que vivenciaram, sem se darem conta que assim ativam apenas a lembrança da imagem, da dor sentida, que muitas vezes precisa ser revivida mil vezes durante meses ou anos de sessões com pouco resultado. Com o EMDR, focamos, atingimos o alvo, limpamos a ferida e permitimos que as emoções cicatrizem sem deixar marcas.

5 de set. de 2015

Ansiedade e angústia também se resolve com EMDR?



Cada vez mais ouvimos as pessoas dizerem que são ansiosas, ou que andam angustiadas com este ou aquele problema para resolver. Eu, no consultório, tenho a grande maioria dos pacientes com a queixa de ansiedade, muitas vezes sem uma causa específica. Muitos chegam preocupados, desestabilizados e se perguntando se a terapia de EMDR pode ajudar nos casos de ansiedade.

O que temos visto e lido na literatura da área é que toda e qualquer patologia ou desestabilização emocional tem uma origem. E é essa origem que o EMDR ataca, é onde a terapia tem o seu efeito. No momento em que se descobre o que causa a ansiedade, tem-se o foco do trabalho. E como o EMDR trata um foco de cada vez, focamos na causa e eliminamos ela. É uma terapia centrada num alvo específico e enquanto este alvo não diminui o grau de perturbação para aquele que sofre, não saímos de cima dele.

No entanto, o mais interessante é que, ao ler isso, você pode pensar que vai demorar dois ou três meses em cima deste alvo até que ele não perturbe mais... É aqui que entra a eficiência da terapia. Tive casos que em duas sessões, de uma hora cada, o que atormentava terrivelmente havia ido embora. É fantástico e muito satisfatório ver o semblante de uma pessoa que entra no consultório atormentada por uma medo, que acredita não ser possível de eliminar, sair sorrindo, leve e nem acreditando no que está sentindo.

Se é desconforto, angústia, ansiedade, tristeza profunda, irritabilidade, ou seja lá o que estiver fora do normal, o EMDR pode dar um jeito. A terapia faz a pessoa entender racionalmente o que se passou, aceitar de outra forma, por outro ponto de vista aquilo que marcou negativamente. Pois quando um pequeno ou grande trauma acontece, não importa o quão racional tentemos ser. Nessa hora, somos só emoção. É ela quem dita nossos passos e nos faz repelir qualquer semelhança de cena, som, cheiro ou imagem daquilo que atormenta. Acabamos nos afastando de algumas coisas, reagindo mal a outras, muitas vezes sem entender ou saber a causa. Tudo está gravado no nosso emocional e o EMDR consegue chegar lá. Trata a ferida aberta, limpa e possibilita a sua cicatrização.

2 de jul. de 2015

A violência urbana traumatiza e aprisiona!

Você já deve ter ouvido muitas pessoas falarem que depois de terem sofrido um assalto na rua, no seu estabalecimento comercial, na sua moradia ou em qualquer outro lugar, ficaram com muito medo e passaram a evitar de sair na rua. Pois é, isso é mais comum do que a gente imagina. Por mais que a violência urbana tenha crescido bastante nestes últimos anos, em todas as cidades, o ser humano não é capaz de se acostumar e se adaptar a isso. Infelizmente o cérebro ainda arquiva essas memórias como algo desadaptativo, causando consequências futuras como estresse pós-traumático, pesadelos, medos em geral, instabilidade emocional, ansiedade e pânico. E já vou adiantando que isso nunca vai mudar.

O ser humano foi capaz de se adaptar com o Nomadismo e com o Sedentarismo. Conseguiu criar vínculos com a terra e querer ficar. Criar animais, cultivar alimentos na terra, criar raízes, formar família. Tudo isso é adaptável, pode não ser fácil, mas o emocional e o racional humanos se adaptam àquilo que lhes traz algum benefício, mesmo que a longo prazo. Agora me pergunto, como uma pessoa pode se adaptar, se acostumar com a violência? Será possível que um dia isso se tornará tão banal que as pessoas seguirão a vida após serem assaltadas, sem se preocuparem com o que perderam e com o que sofreram? Dificilmente isso acontecerá, pois não há nenhum benefício para quem sofre a violência urbana ou doméstica.

Estou tratando no momento uma pessoa que sofreu vários assaltos em sua vida. Cada um deles foi como uma sementinha de medo plantada dentro do seu cérebro, fez uma fenda no seu emocional e depois do último, em que quase perdeu o esposo e a própria vida, o impacto foi muito grande. Hoje vive com medo de tudo e de todos, supeita de qualquer estranho que entre em seu estabelecimento comercial, qualquer um que se aproxime meio ligeiro na rua, enfim, está em alerta constante e total.

O estresse pós-traumático faz com que as pessoas não percebam o quão alienadas ficam do mundo a sua volta, pois sua mente está focada constantemente no seu alvo de terror. Em todos estes sintomas que vão desde o suor frio, o coração acelerado, os pesadelos, a ansiedade e o medo, o EMDR atua com maestria e eficiência. É o tratamento mais eficaz que conheço e vejo isso na prática todos os dias. Os casos mais desafiadores são os que têm melhores resultados. Os pânicos, fobias e medos em geral, apresentam uma redução em poucas sessões e o melhor de tudo é que só regridem mais e mais com o tempo.

Gosto de explicar para meus pacientes entenderem claramente o que o EMDR faz com a gente da seguite forma: Quando cortamos a mão, com um vidro, por exemplo, naquele momento dói, pode até sangrar, a ferida fica aberta por um tempo, mas a própria pele vai tratando de regenerar aquele tecido que foi rompido. Dali alguns meses, restará apenas uma cicatriz, que não doerá mais ao tocar. Dependendo do tamanho do corte, nem cicatriz ficará. Só há um detalhe aqui: Se no momento do corte ficar dentro da pele um pedacinho minúsculo de vidro, ele não vai cicatrizar normalmente. Vai doer por mais tempo, vai mostrar sinais de infecção, vai ficar aberto e só melhorará se for limpo e se retirarem este objeto estranho ali de dentro. Com nosso emocional acontece o mesmo. Todos os sustos e estresses do dia-a-dia "cicatrizam" normalmente, sem deixar marcas em nós. Porém, tem alguns que "infeccionam" e nos deixam doloridos por anos... Tentamos a todo custo regenerar aquele "corte", mas isso não é possível, devido ao "objeto estranho" que ficou lá dentro. Muitas pessoas dizem que o tempo cura tudo. Mas uma ferida aberta, infecionada não. Vai doer e piorar com o tempo se não for corretamente tratada. Aqui entra o EMDR, que vai mexer na ferida (e isso dói sim!), limpar (também dói) colocar medicação e fazê-la nunca mais incomodar. E isso acontece sim, maravilhosamente!

Sempre é possível ficar melhor do que se está. Não é normal da vida termos medo, restringirmos nosso ir e vir por medo. O normal é não estarmos aprisionados a nada e o EMDR pode dar ou devolver esta liberdade.