25 de fev. de 2017

Depoimentos: O que sentiu na prática quem passou pelo tratamento com EMDR - Parte 1

 Olá. Hoje vim trazer algo um pouco mais palpável pra quem não conhece a terapia do reprocessamento e tem vontade de entender o que acontece com quem se tratou com ela. O EMDR só se entende quando se vivencia. Assim foi quando fiz o curso. A professora Esly Carvalho, no primeiro módulo do curso, nos deu um dia de teoria e no segundo dia nos juntamos em duplas para praticar: praticar os movimentos bilaterais, praticar seguir o passo-a-passo do protocolo de 8 fases, praticar sentir na pele o que o paciente iria sentir ao tratar suas questões emocionais com o EMDR. E foi incrível! Eu ver meus pequenos medos do passado se dissiparem com alguns movimentos de dedos frente aos meus olhos, foi inacreditável!
 Por isso que depoimentos sempre dão mais veracidade ao que os terapeutas falam e falam sobre suas teorias. A partir de hoje, vou começar a trazer alguns depoimentos de pacientes que tratei com o EMDR e que super indicam a técnica. Vamos juntos?

"Quando conheci o EMDR estava me preparando para enfrentar uma cirurgia bariátrica. Como de praxe para os exames pré-operatórios, deveria passar por uma avaliação psicológica e, depois de muito conversar com a Deise, percebemos que eu tinha vários traumas enraizados, vinculados a procedimentos médicos. Portanto, ela me sugeriu aplicar a técnica. Quando pesquisei, confesso que achei uma bobagem. Assisti a um vídeo no youtube que mais parecia uma encenação e, cética e racional como sou, duvidei que fosse funcionar. Entretanto, não vi mal em tentar. Focamos em um problema, instalamos mentalmente um lugar seguro para onde eu pudesse fugir caso fosse necessário, e começamos os movimentos bilaterais, que eu escolhi que fossem por meio de toques, no joelho e, do nada, um filme foi passando na minha cabeça. Me senti teletransportada para outro lugar e fui sendo guiada pela voz da Deise e pelos movimentos bilaterais. Foi simplesmente incrível e é difícil de explicar. O objetivo era chegarmos ao que originou meu trauma e dessensibilizarmos todos os acontecimentos, para que, quando eu me lembrasse, fosse possível suportá-los e não incidissem mais na vida atual. O mais interessante é que me recordei de coisas das quais eu nem lembrava. Aqui, o que foi tratado foi especificamente meu medo de agulha. Como eu poderia enfrentar uma cirurgia, com anestesia, aplicação de soro na veia e anticoagulante se tivesse pânico de agulha? O que posso dizer é que deu super certo. Não só me libertei desse medo como ainda incutimos em mim palavras positivas. Durante todo o tempo eu dizia "eu consigo suportar", e acreditava nisso, o que acabou funcionando. Não preciso nem dizer que a cirurgia foi um sucesso, né? A minha recuperação foi tão incrível que nem dor eu senti. Sim, pela primeira vez na vida eu dispensei os analgésicos, não quis tomar nenhum. E em 2 dias eu já estava inclusive subindo e descendo escadas e trocando os meus próprios curativos. Para quem não acredita, como eu não acreditava, o EMDR funciona sim e, melhor, tem efeito imediato! É muito diferente daquelas terapias que passamos meses conversando e analisando determinado assunto. Super recomendo."
MC, 31 anos

 O "Eu consigo suportar", que foi repetido pela paciente como um mantra, é o que chamamos de Crença Positiva e ela ocupa, no nosso cérebro emocional, o lugar que antes era da Crença Negativa. Quando iniciamos a fase 4 do protocolo, que é a fase de dessensibilização e reprocessamento da cena escolhida como traumática, medimos a validade dessa crença positiva, numa escala de 1 a 7, sendo 1 completamente falsa e 7 completamente verdadeira. Isto é, o quanto a pessoa SENTE que aquelas palavras são verdadeiras quando faladas pensando na cena a ser trabalhada. Se a crença negativa é forte, por exemplo "Não vou conseguir", "Não consigo suportar", a crença positiva deve ter uma validade bem baixa, tipo 1 ou 2 nesta escala. 

 A medida que dessensibilizamos, retirando a carga emocional negativa da cena lembrada, e reprocessamos, tornando-a mais racional e menos emocional, a crença negativa perde a força e a positiva aumenta a validade. Terminamos a sessão com a cena traumática não incomodando mais, a crença negativa sem valor e a positiva com um grau 6 ou 7. E isso tudo não é só falado, da boca pra fora. É sentido! Com todas as emoções envolvidas, com as sensações físicas que a pessoa vai sentindo a medida que lembra do trauma... Então não tem como se enganar: ou você ainda se incomoda ao pensar naquilo ou não. Seu corpo denuncia, não tem jeito de camuflar!

14 de fev. de 2017

Quando o nosso sofrimento nos afasta dos outros

Chega uma hora que vem a necessidade de escrever. Não dá pra adiar mais. As coisas estão aflorando, as demonstrações, semana a semana, aparecendo e eu cada vez mais encantada com os resultados. É incrível que depois de 6 anos o EMDR ainda me surpreenda! Acredito que vá me surpreender sempre, pois cada novo paciente, é um novo caso, uma nova história de vida e sofrimento, nova forma de dessensibilizar e de reprocessar, novos labirintos cerebrais e novo caminho que o cérebro traça na tentativa de recuperar a memória saudável daquele momento vivido de forma tão dolorosa.

Ainda me emociono com o choro de alívio de alguns pacientes que depois de chorarem uma ou duas sessões de dor por terem que lembrar da cena traumática, sentem-se leves, como se já não carregassem aquele saco de cimento pesado sobre os ombros. E realmente não carregam mais. O que uma lembrança traumática faz com o emocional de uma pessoa é muitas vezes devastador. Só sabe quem sofre, só sabe quem tem medo, que acorda de madrugada no meio de um pesadelo e não vê sentido racional naquilo, apenas terror. Quem passa por uma experiência repetidas vezes, todas elas em pânico, por reviver a situação que deixou a memória salva de forma não-adaptativa, torcida, errada.

Essa semana pude ouvir mais uma pérola da paciente que atendo. Entre tantas coisas que ela fala depois de reprocessar as memórias traumáticas, refletindo e tendo insights incríveis, ela me saiu com essa: “Acho que preciso pedir desculpas à minha irmã por aquele dia...” Então me dei conta de quantas famílias têm problemas por situações traumáticas vividas e que não imaginam a importância de tratar seus medos e suas dores, para não carregarem mais o sofrimento do afastamento de um alguém tão importante: um irmão, uma mãe, um pai. Como se não bastasse ter sofrido o baque, naquele momento da dor, da reação desmedida, não-pensada, nós magoamos quem está ao nosso lado, sem nos darmos conta de que o outro também pode estar sofrendo. Os anos passam e carregamos a dor do momento e a raiva daquela pessoa em quem atiramos a culpa do que aconteceu, mesmo que ela estivesse ali na cena só como espectadora, como uma mãe presenciando o filho apanhar do pai alcoolizado. No momento em que este filho reprocessa a surra levada, percebe que a mãe também estava sofrendo ao presenciar a cena, percebe que ela estava vulnerável, impedida de reagir, com medo ou então que fez tudo o que estava ao seu alcance naquele momento. Os dois saem machucados da cena. Cada um com as suas feridas abertas. Mas talvez este filho tenha passado a vida ignorando, menosprezando e magoando a mãe com palavras e atitudes, por senti-la culpada, mesmo que inconscientemente. Ao tratar o seu trauma, enxerga a mãe sofrendo ali ao seu lado e tudo muda. É urgente o sentimento de culpa e a necessidade de pedir perdão por anos de sofrimento sem motivo.
E assim se dá no nosso cérebro racional. Quando o emocionar para de dar as ordens ao produzir força negativa dentro de nós, conseguimos olhar ao redor e enxergar os estragos que fizemos enquanto estávamos sob o efeito dessa dor. É o momento de reaprender a amar, reconquistar as pessoas que afastamos, voltar para o convívio dos familiares e amigos, conquistar novos desafios que antes não eram nem cogitados. Chega o momento de voltar a viver por completo!