2 de jul. de 2015

A violência urbana traumatiza e aprisiona!

Você já deve ter ouvido muitas pessoas falarem que depois de terem sofrido um assalto na rua, no seu estabalecimento comercial, na sua moradia ou em qualquer outro lugar, ficaram com muito medo e passaram a evitar de sair na rua. Pois é, isso é mais comum do que a gente imagina. Por mais que a violência urbana tenha crescido bastante nestes últimos anos, em todas as cidades, o ser humano não é capaz de se acostumar e se adaptar a isso. Infelizmente o cérebro ainda arquiva essas memórias como algo desadaptativo, causando consequências futuras como estresse pós-traumático, pesadelos, medos em geral, instabilidade emocional, ansiedade e pânico. E já vou adiantando que isso nunca vai mudar.

O ser humano foi capaz de se adaptar com o Nomadismo e com o Sedentarismo. Conseguiu criar vínculos com a terra e querer ficar. Criar animais, cultivar alimentos na terra, criar raízes, formar família. Tudo isso é adaptável, pode não ser fácil, mas o emocional e o racional humanos se adaptam àquilo que lhes traz algum benefício, mesmo que a longo prazo. Agora me pergunto, como uma pessoa pode se adaptar, se acostumar com a violência? Será possível que um dia isso se tornará tão banal que as pessoas seguirão a vida após serem assaltadas, sem se preocuparem com o que perderam e com o que sofreram? Dificilmente isso acontecerá, pois não há nenhum benefício para quem sofre a violência urbana ou doméstica.

Estou tratando no momento uma pessoa que sofreu vários assaltos em sua vida. Cada um deles foi como uma sementinha de medo plantada dentro do seu cérebro, fez uma fenda no seu emocional e depois do último, em que quase perdeu o esposo e a própria vida, o impacto foi muito grande. Hoje vive com medo de tudo e de todos, supeita de qualquer estranho que entre em seu estabelecimento comercial, qualquer um que se aproxime meio ligeiro na rua, enfim, está em alerta constante e total.

O estresse pós-traumático faz com que as pessoas não percebam o quão alienadas ficam do mundo a sua volta, pois sua mente está focada constantemente no seu alvo de terror. Em todos estes sintomas que vão desde o suor frio, o coração acelerado, os pesadelos, a ansiedade e o medo, o EMDR atua com maestria e eficiência. É o tratamento mais eficaz que conheço e vejo isso na prática todos os dias. Os casos mais desafiadores são os que têm melhores resultados. Os pânicos, fobias e medos em geral, apresentam uma redução em poucas sessões e o melhor de tudo é que só regridem mais e mais com o tempo.

Gosto de explicar para meus pacientes entenderem claramente o que o EMDR faz com a gente da seguite forma: Quando cortamos a mão, com um vidro, por exemplo, naquele momento dói, pode até sangrar, a ferida fica aberta por um tempo, mas a própria pele vai tratando de regenerar aquele tecido que foi rompido. Dali alguns meses, restará apenas uma cicatriz, que não doerá mais ao tocar. Dependendo do tamanho do corte, nem cicatriz ficará. Só há um detalhe aqui: Se no momento do corte ficar dentro da pele um pedacinho minúsculo de vidro, ele não vai cicatrizar normalmente. Vai doer por mais tempo, vai mostrar sinais de infecção, vai ficar aberto e só melhorará se for limpo e se retirarem este objeto estranho ali de dentro. Com nosso emocional acontece o mesmo. Todos os sustos e estresses do dia-a-dia "cicatrizam" normalmente, sem deixar marcas em nós. Porém, tem alguns que "infeccionam" e nos deixam doloridos por anos... Tentamos a todo custo regenerar aquele "corte", mas isso não é possível, devido ao "objeto estranho" que ficou lá dentro. Muitas pessoas dizem que o tempo cura tudo. Mas uma ferida aberta, infecionada não. Vai doer e piorar com o tempo se não for corretamente tratada. Aqui entra o EMDR, que vai mexer na ferida (e isso dói sim!), limpar (também dói) colocar medicação e fazê-la nunca mais incomodar. E isso acontece sim, maravilhosamente!

Sempre é possível ficar melhor do que se está. Não é normal da vida termos medo, restringirmos nosso ir e vir por medo. O normal é não estarmos aprisionados a nada e o EMDR pode dar ou devolver esta liberdade.