12 de jul. de 2016

Os traumas do passado sempre voltam, mais cedo ou mais tarde

 E depois de alguns meses ocupada, aqui estou de volta, com mais uma reflexão. O que me faz pensar hoje é sobre o quanto as pessoas se esquecem do que viveram no passado, de uma vivência dolorosa, mas não são esquecidas por este fato. Os traumas e sofrimentos vividos no passado servem de apoio aos nossos medos do presente e são os fortalecedores das nossas crenças negativas, aquelas que nos guiam um dia após o outro nas nossas decisões.

 Dia desse conversando com uma amiga, que tem uma filha adotiva, ela me contava como foi o início dessa linda relação de amor, entre ela e a menina, hoje com quase 10 anos. A pequena nasceu no lar de uma vizinha, sem estrutura nenhuma, nem financeira, nem emocional. Vez ou outra a vizinha deixava a linda menina aos cuidados dessa amiga, pois precisava sair e não tinha com quem deixar. Detalhe: já não era o primeiro filho e a família vivia com bastante dificuldade. Nada fora do comum do que vemos acontecer cada vez mais nas classes menos favorecidas.

 No entanto o carinho e os cuidados de minha amiga para com esse anjinho fez com que ambas se apegassem uma a outra e quando a família decidiu ir embora, minha amiga não teve dúvida, ficou com a guarda da menina. Foi tudo legalmente decidido e resolvido a essa florzinha pôde desabrochar num lar cheio de carinho, atenção, amor, cuidados, preocupações e tudo o que deveria ser tão natural e é tão essencial para um desenvolvimento humano. Mas infelizmente não era o que ela havia tido de experiências até aquela idade, mais ou menos 2 anos, enquanto vivia com a família de origem. Minha amiga sabia, mas não podia fazer nada até aquele momento. A menina era usada pela mãe para que o pai não batesse nela, servia de escudo mesmo, barreira física. Uma lástima! Uma marca, muito profunda, que ninguém merece carregar!

 Bom, o desfecho da história todos nós sabemos: medos das mais variadas formas e proporções tomaram conta dessa criança à medida que foi se desenvolvendo. A insegurança de se afastar, ou o dormir longe daqueles com quem se sente segura é um problema vivido até hoje. Alguns tratamentos já foram realizados para ajudar essa linda menina, cheia de dons e virtudes, a acalmar o coração e as emoções. Mas um início de vida tão tumultuado não tem como passar sem deixar marcas.

 Os adultos não têm a mínima noção de como uma criança vivencia os problemas deles, principalmente se são enfiados no meio, como se fossem simples bonecos, fantoches... Qualquer criança pode, por inúmeras razões, vivenciar problemas na sua mais tenra infância, até mesmo ainda dentro da barriga, que poderão gerar problemas depois que crescer. O que elas não precisam é viver com isso e passar adiante nas próximas gerações, na convivência com as pessoas, na criação dos filhos... Pois isso está dentro dela e rege suas decisões. É preciso limpar a memória salva de forma disfuncional, defeituosa, limpar a carga emocional gravada de forma não adaptativa para deixar a pessoa livre desse crença que rege seus passos, sem que ela se dê conta disso.

 Uma ferida aberta dói. Às vezes achamos que ela cicatrizou e que o "tempo cura tudo". Mas quem tem o olhar um pouco mais sensível percebe que não. Qualquer machucado infeccionado, só cicatriza se for tirada a infecção. E o EMDR pode fazer isso com as feridas emocionais. Por isso, muitas vezes, volta a doer durante o processo terapêutico. Mas é como eu sempre falo: Vai doer uma última vez! Para limparmos a infecção e deixarmos o emocional cicatrizar de forma natural, o que não pôde fazer quando houve o corte, o trauma.