13 de mar. de 2012

Como acontece o trauma a nível cerebral

Para que seja possível entender o que ocorre no cérebro durante a “formação” de um trauma, é importante entender dois termos: armazenamento de memória e processamento de informações. Um exemplo, para entender melhor, é de uma filha que procura o carinho do pai e este, sem perceber, faz um movimento deliberado e acerta a menina, machucando-a. Assim, ela acaba por experimentar um intenso afeto negativo, fazendo com que desenvolva uma crença negativa de si mesma e da cena, como por exemplo: “Há algo errado comigo! Não mereço a amor do meu pai!”. Principalmente no caso das crianças, é normal que assumam a culpa por coisas que acontecem aos pais.

No momento da cena, a criança armazena em seu sistema nervoso apenas afeto, isto é, os sentimentos envolvidos, que podem ser de menos-valia e impotência. Armazena também algumas imagens da cena, a dor que ela sentiu, o som e demais elementos presentes no ambiente naquela hora. Aqui está o cerne do problema, o chamado alvo, segundo o Modelo de Processamento Acelerado de Informação.

Essa experiência, sem muita importância para o pai, que talvez no momento até tenha pedido desculpas ou nem dado valor, será um evento primário autodefinidor na vida dessa menina. Como as memórias são armazenadas de forma associativa, qualquer evento seguinte similar, que apresente algum tipo de rejeição, acabará se ligando ao nó e formando uma neuro-rede que será importante na definição de autovalorização desta menina.

Qualquer tipo de experiência que ela passar na vida dali em diante, seja alguma rejeição da mãe, irmãos, amigos ou colegas de escola pode ligar-se ao nó em forma de canais de informações associadas. Isso pode ocorrer, inclusive, antes mesmo de a criança ter desenvolvido a linguagem adequadamente. Todas as experiências da infância que contiverem sentimentos similares de impotência, desespero e inadequação serão armazenadas como informação, ligando-se a esta neuro-rede organizada ao redor do nó daquela experiência que foi a primeira.

Infelizmente, as experiências positivas não serão assimiladas e armazenadas nesta mesma neuro-rede, pois seu nó é definido por um afeto negativo. Da mesma forma ocorre quando uma experiência boa faz com que essa mesma criança crie conexões numa neuro-rede positiva, com afeto positivo. As demais experiências que se associarem à primeira por semelhança de afeto ou sensação fortalecerão o alvo, onde dificilmente um afeto negativo estará ligado.

Assim, passam-se os anos e aquela menina cresce com algumas crenças sobre si mesma e sobre os outros. Acaba criando resistência em alguns relacionamentos, dificuldade na escola, no trabalho etc. Tudo isso por um fato que, aparentemente, não teve significado no momento, mas que para ela foi o marco de uma rede associativa negativa complexa.
Usando de terapia convencional, esta menina, quando já mulher, levaria anos tentando entender porque seus relacionamentos não dão certo, por que se sente inferiorizada no trabalho, por quê, por quê, por quê... Já com o EMDR, mesmo ela não lembrando da cena original, pegamos um evento do cotidiano que a incomode e deslizamos para o passado: “Em que outros momentos da sua vida você se sentiu assim ou teve pensamentos sobre si mesma desta forma?” Se ela não acessar a memória-alvo, pegamos a memória mais antiga. O reprocessamento, através dos Movimentos Bilaterais, fará com que aquele alvo seja acionado e venha através de sensação semelhante, lembrança da cena ou de algum elemento dela. Limpamos a cena e ela conseguirá elaborar cognições mais positivas sobre si e sobre o evento, deixando aquilo no passado e seguindo sua vida sem esta sombra negativa.

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